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Na língua africana iorubá, a palavra acarajé tem uma origem que transcende o simples ato de comer. A junção de "acará" (bola de fogo) com "jé" (comer) resulta em uma expressão significativa: "comer bola de fogo". Esse prato, além de ser uma iguaria saborosa, carrega consigo uma rica herança cultural e espiritual.

O acarajé, uma oferta à divindade Oyá no candomblé, possui raízes profundas na história afro-brasileira. Há 300 anos, mulheres africanas escravizadas trouxeram consigo essa receita, que se transformou em um símbolo da resistência e da preservação de tradições culturais.

Feito a partir do feijão fradinho, uma variedade de feijão-caupi, o bolinho de acarajé é uma explosão de sabores. Seu recheio, composto por camarão, pimenta, vatapá, caruru e salada, revela uma mistura única de ingredientes que ressoa com a diversidade da cultura afro-brasileira.

Rita Santos, coordenadora da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABAM), destaca a importância econômica e social desse prato. Durante o período de escravidão, as mulheres escravizadas alforriadas encontraram no acarajé uma fonte de renda significativa. Rita compartilha: "Quando as mulheres escravizadas eram alforriadas, elas vendiam acarajé nas ruas para comprar a alforria de outras pessoas escravizadas."

Essa prática evoluiu ao longo do tempo, dando origem a uma das primeiras profissões femininas do Brasil: o Ofício das Baianas de Acarajé. Em 2005, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) reconheceu essa tradição como patrimônio cultural brasileiro, destacando a importância de preservar e valorizar a herança das baianas que, por meio do acarajé, perpetuam a memória e a identidade afro-brasileira. O acarajé, mais do que uma simples iguaria, é um elo entre passado, presente e futuras gerações, representando a força e a resiliência da cultura afro-brasileira.